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20/02/2010

Ensaio sobre a Cegueira

Ensaio sobre a Cegueira





Dirigido por Fernando Meirelles ( de “ O Jardineiro Fiel” e “ Cidade de Deus”, é baseado na obra do escritor português José Saramago. Conta a história de uma inédita epidemia de cegueira, inexplicável, que se abate sobre uma cidade não identificada. Tal “cegueira branca” – assim chamada, levam as pessoas infectadas a verem apenas uma superfície branca, leitosa.

Cegueira que espalha-se por entre as pessoas e, lentamente, pelo país. Todos acabam cegos e reduzidos a organizar suas necessidades básicas, ajudados por uma única mulher não infectada.



O ensaio é uma obra aberta a diversas interpretações, e aponto algumas que considero importante como tema de reflexão:



A surpresa e angústia repentina diante de uma cegueira, mostra a incapacidade humana de lidar com o perigo diante do desconhecido, que me fez lembrar os textos de Michel Foucault ( 1926-84), filósofo francês que, entre outras coisas, estudou a relação do homem com a loucura e a prisão. No filme isto se evidencia no confinamento, que gerou um estado de anarquia, de caos absoluto. Onde as pessoas não tem nada a obedecer além do instinto de sobrevivência.



Outra leitura, seria à disputa do poder, presença marcante em qualquer organização. Ela nasce de um princípio básico: o domínio do outro, pelo medo, pela ameaça, ou pela simples organização de idéias. Qualquer grupo que se forma, há um líder, e o filme nos mostra esse dois pólos divergentes: o organizador e o destruidor.



Portanto, o filme não é sobre cegos, mas da metáfora sobre a cegueira para falar da omissão, da solidariedade, e dos pressupostos éticos de todo ser humano, que na falta deles, geram monstros.



A fotografia é belíssima, e reforça toda a carga dramática do medo e do abandono gerada por essa epidemia. Simulando ao meu ver a própria cegueira, abusando do brilho intenso, luminoso e de cores claras, brancas. E esse recurso, ao meu ver, dá todo o tom do filme para provocar realmente uma reflexão, onde o expectador entra no mesmo estado de desorientação e desconforto experimentado pelos personagens, e são guiados pela excelente atuação de Juliana Moore, em sua própria transformação psicológica durante a seqüência do filme.



Como conclusão penso que a vida real de dá em meio a este equilíbrio instável e cambiante, entre o ver e o não ver, entre o vício e a virtude , sempre a nos levar a reconhecer que as sombras existem, que precisamos reconhecer a maldade humana e sua fragilidade, que não somos bonzinhos e que precisamos reconhecer nossos males.





JU Gioli

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